Após 15 anos sem desfilar em Portugal, João Rôlo regressa para celebrar 40 anos de carreira com um desfile impactante e declarações duras: “Aqui estão a brincar às modas”.
João Rôlo, 40 anos de carreira e uma franqueza rara. Entre o brilho da passerelle e as mágoas de um país que não o soube acolher
Ele regressou aos desfiles em Portugal para celebrar quatro décadas dedicadas à alta costura. Fez questão de assinalar a data junto do público português, mas não escondeu o desencanto com um meio que, garante, nunca o quis verdadeiramente dentro de portas.
O designer abriu a primeira loja em 1985. Quarenta anos depois, regressou à passerelle nacional com um desfile que marcou o reencontro com o país onde nasceu para a moda. Adriano Silva Martins convidou João Rolo para estar no V+ Fama, onde deixou várias declarações.
Logo no início recordou os motivos que o afastaram de Portugal durante 15 anos e a razão que o trouxe de volta, ainda que por um dia apenas, “Estive praticamente 15 anos sem fazer desfiles em Portugal porque tenho estado a focar-me mais na minha carreira internacional, onde tenho muito mais hipóteses de realizar o tipo de trabalho que gosto de fazer, que é a alta costura. Resolvi fazer este desfile porque fazia 40 anos de carreira, queria comemorar esta data com os portugueses, com as pessoas de quem gosto, e mostrar porque é que tenho sucesso lá fora. As pessoas perceberam a dimensão que tenho fora do país”, explicou.
Mas se a ausência se deveu ao mercado internacional, o afastamento prolongado também ficou a dever-se a um sentimento menos suave que a palavra saudade. Quando questionado sobre uma possível mágoa em relação ao setor da moda nacional, João Rôlo não se esquivou, “Agradeço a toda a imprensa da moda e a todas as pessoas que sempre estiveram à frente da moda em Portugal por nunca terem querido fazer nada comigo. Isso obrigou-me a valorizar-me e a crescer por mim próprio. Se calhar teria ficado acomodado ao sistema. Assim não. Tudo isso fez-me criar mais vontade de avançar e conseguir. Eu sei o talento que tenho, não tinha de estar restringido a um país onde, sinceramente, está tudo a brincar às modas”, afirmou.
O desfile de celebração, diz, foi mais do que uma festa. Foi também uma constatação, “Adorei fazer este desfile, mas duvido que volte a fazer outro em Portugal. Eu queria 20 manequins e não consegui 20 manequins à altura. Há muita coisa que constatamos quando tentamos fazer algo com exigência. O trabalho é dispendioso e a repercussão é mínima. E há certa imprensa que nem convidei, porque não quero que falem do meu trabalho, não têm dignidade para isso”, criticou.
A conversa trouxe ainda à tona as dificuldades enfrentadas durante a pandemia, período em que abriu uma loja em Puerto Banús e sofreu perdas avultadas devido ao encerramento de fronteiras e à ausência de turismo. Dois anos depois, sente que recuperou e prepara nova etapa internacional.
Fonte: www.dioguinho.com